27.10.11

A discrição é o novo Orkut



É tanta informação que não se pode deixar de saber, tanta gente "incrível" a seguir, tanta piada e jargão que você se pode deixar de conhecer, bebês! Que fica difícil acompanhar tudo o tempo todo das timelines.
A tecnologia é uma grande manifestação de novidades por segundo que enlouquecem qualquer um, com necessidade crônica de informações...
Mas também existe um movimento contrário.
Há algum tempo, com toda a modernidade dos gadgets, Mr. Jobs, parece ter entendido tudo isso e apostou no design e aplicativos-comfort.

Assim como na comfort-food, acredito no comfort-tech.
Não sou uma pessoa tecnológica, mas sou um desses observadores cheios de teorias... E como tenho sentido minha mente cansada depois de uma hora ou três na frente das minhas redes sociais e visitas aos "favoritos", comecei a pensar se não era a hora de voltar aos analógicos e me restringir ao bom e velho jornal de papel.

A busca pelo comportamento "vintage" é só uma busca por aquilo que já é conhecido, aquilo com o que fomos criado e não precisamos nos desgastar filtrando ou fazendo com que os aplicativos e programas filtrem por nós mesmos, as informações realmente relevantes.

O mundo mediado por tecnologia de ponta, só faz com que fique mais frio, distante e menos filosófico e mais superficialmente informativo.
Sim, as pessoas nunca tiveram tanto contato umas com as outras, mas um contato igualmente superficial.
Nota-se um movimento de diminuição de "número de amigos" em redes sociais, de número de fotos por álbum, e até mesmo do tipo de foto.
A auto-expressão on line, ainda que extremamente calculada e minuciosamente planejada, logo nem tão espontânea assim, fica cada vez mais narcísica, mas de alguma maneira menos poluída aos olhos de quem vê.

O número de megapixels foi substituído pela qualidade estética e relevância dos registros.
A discrição é o novo Orkut.

As fotos da vida noturna de cada um, registrados por mil sites que se propuseram em algum momento ser qualquer tipo de coluna social, hoje nada mais é que uma ideia falida, se não tem o mínimo de humor, criatividade e escracho.
Talvez seja mais interessante o registro de um sapato anônimo à pose ensaiada no espelho do banheiro de casa, de duas amigas fiéis às saias balonês de cintura alta, seguida da legenda de nomes completos.

A busca é pelo minimalismo, seja no design, na resolução das fotos, ou no comportamento. Tem que saber o quanto expressar, e principalmente o por quê.




Apenas o clichê




Acabei de assistir "Apenas o Fim", filme brasileiro super independente com o Gregório Duvivier e a Érika Mader, passado na PUC (RJ), dirigido por um até então, estudante da PUC (RJ).
Essas eram as informações que tinha quando vi qualquer crítica sobre o filme.
Fiquei curioso em relação ao roteiro, que na época O Globo não especificou. Só elogiou.
Um delicioso clichê universitário da zona sul carioca!
Um término de namoro de uma hora de discussão.
Tem um quê de "Antes do amanhecer" e sua sequência, mas na PUC-RJ.

Fiquei pensando, além de qualquer coisa relacionada à construção da personalidade dos personagens, o que leva as pessoas a assistirem esses filmes. É uma DR, logo, presume-se que é um entediante e irritante, já que ninguém, além das histéricas, gosta de DR.
Ou seria a questão de que pimenta nos olhos dos outros é refresco?

Teorizações nem tão à parte assim, os personagens têm conversas de um casal em seu auge, porém no término do relacionamento. Se descobrem a cada pergunta casual repetida sobre preferências e .. teorias sobre o cotidiano.

O personagem do Gregório Duvivier, assim como eu, teoriza ironicamente até o por quê ele é a favor do trabalho infantil. Acaba por ser meio incompreendido, o que reforça o clichê jovem nerd aspirante a cineasta que ele aparenta se orgulhar, exibindo os óculos do avô com  coragem e louvor apesar do meio grau de miopia.
Ela, não foge aos estereótipos garota zona sul de personalidade excêntrica ao ponto de namorar o perdedor-geniozinho da faculdade, ainda que seja linda.

Os clichês se repetem a todo instante assim como "facas e ursos de pelúcia" se repetem no roteiro do filme.
O tema é clichê, os personagens são clichês, o lugar é clichê, as conversas são todas aquelas que se tem numa mesa de bar ou num domingo de pizza - cenas igualmente clichês.
Mas não seria isso que traz o charme do filme?
Não seria a segurança daquele fim esperado desde a primeira leitura do título do texto?
A falta de surpresa nos personagens com quem os protagonistas cruzam? Na trilha sonora "Marcelo Camelo"?
No banho de água fria (literal) do perdedor?

Qualquer comédia romântica ganha um casal na segurança de um clichê. Por isso são comédias, senão caem direto na sessão dos dramas das extintas locadoras.

E assim termino mais uma breve teoria irônica sobre o por quê comédias românticas são como valium para casais.