"A Bottega Veneta acaba de lançar seu primeiro cd.
As músicas são de desfiles da marca e está sendo vendido nas lojas e no site..."
Fonte: C'Est La Vie
Há um tempo, li esse "report" (clique!) sobre como a marca era a cara dos "Novos Boêmios".. Um termo designado aos neo bon vivants, que com a facilidade de viajar e crescimento econômico, começam a se preocupar mais com o bem-estar que com o dinheiro que ganham, ainda que para esse conceito de "bem-estar" precisem de uma boa quantidade de dinheiro.
Independente de comportamentos de consumo atuais serem importantes ou não, o meu ponto é como se formam tais identidades.
Ando pensando muito ultimamente nesse tópico, desde que comecei estudar branding. Mais que quando estava na graduação de psicologia. Claro que uma coisa puxa a outra..
Ando o tempo todo observando as pessoas e imaginando como e quem é aquela pessoa.
Desde criança fui condicionado a pensar que a pergunta "quem é você?" fosse de difícil resposta. E concluí que ás vezes é mais difícil responder essa pergunta pelo fato de que gramaticalmente, é impossível.
O verbo Ser em inglês e algumas outras línguas é o mesmo que para Estar.
Facilita e muito a resposta.
Eu estou psicólogo. Eu sou curioso. Só depende do foco...
Gramáticas à parte, o que compõe a identidade além de conceitos que nos damos e nos dão, são coisas que fazemos, pensamos, queremos, comemos, assistimos, ouvimos, bebemos, frequentamos, etc.
Definir identidades de pessoas pra uma marca e fazer à partir disso um trabalho de marketing ou qualquer outra coisa, é bem fácil quando se é criativo.
Desvendar quem é o indivíduo num set analítico, demanda tempo, descrença e supervisão.
Psicologias também, à parte (quer dizer, nem tanto assim) Adoro personificar as coisas!
Seja um filme, uma obra de arte, uma música/banda, uma bebida/drink, entre mil outras coisas.
Quase que como fazem em desenhos animados, eu já logo crio uma personalidade e uma história pra aquela determinada "coisa".
Percebi o quanto isso era forte numa festa chata em que me vi olhando para as pessoas e imaginando o que elas ouviam em casa. Claro que o contexto influenciou diretamente na minha análise-criativa da cena.
A festa era ruim e hippie, meio farsa. Uma menina representava a festa.
Basicamente achava que ela tinha um complexo de Gal Costa tardio, logo mal-resolvido (também invento psicopatologias, visto que as dos guias são chatas e muito dramáticas), por que tinha um cabelo, um tanto quanto, fatal, pero no mucho.
Usava um vestido 60's, xadrez, mal feito que faria Pierre Cardin chorar (ela jurava não acreditar em Moda). E um tênis all-star.
Ela dançava mal e fedia um pouco.
Mas me marcou. Marcou por que ela era uma grande representação daquele ambiente em que eu estava, que buscava uma originalidade que já não mais existia. Uma contestação sem propósito e com o objetivo único de serem como nossos pais, tomando cerveja barata e quente ainda que sejam pós-universitários num terraço coberto na Lapa.
Na hora criei uma história, alguns amores e traumas pra essa garota. Tudo foi embora quando minha ressaca chegou. Mas tudo fez muito sentido!
Uma das cenas rotineiras era de ela copiar um pouco seus affairs, e ouvir Novos Baianos por causa deles. Ouvia e fazia questão de decorar a letra pra cantar na festa daquele fim de semana e provar a todo mundo que fazia parte daquele grupo. Ainda que não soubesse que Baby Consuelo, virou Baby Do Brasil, evangélica e mãe das SNZ, atração frequente nos programas dominicais destinados às classes C, D e E.
Claro que existem personagens menos detonados que esses. Mas os em que destilo minha críticas, são os mais divertidos.
Os Novos Boêmios da Bottega Veneta por exemplo, viraram um seriado na minha cabeça.. Muito drama, vinhos neo-zelandeses, e filosofia barata na noite dos balneários europeus.