21.11.11

Sobre o quê os psicólogos (eu) pensam em episódios de aparente ausência...



"A Bottega Veneta acaba de lançar seu primeiro cd.
As músicas são de desfiles da marca e está sendo vendido nas lojas e no site..."

Há um tempo, li esse "report" (clique!) sobre como a marca era a cara dos "Novos Boêmios".. Um termo designado aos neo bon vivants, que com a facilidade de viajar e crescimento econômico, começam a se preocupar mais com o bem-estar que com o dinheiro que ganham, ainda que para esse conceito de "bem-estar" precisem de uma boa quantidade de dinheiro.

Independente de comportamentos de consumo atuais serem importantes ou não, o meu ponto é como se formam tais identidades.
Ando pensando muito ultimamente nesse tópico, desde que comecei  estudar branding. Mais que quando estava na graduação de psicologia. Claro que uma coisa puxa a outra..

Ando o tempo todo observando as pessoas e imaginando como e quem é aquela pessoa.
Desde criança fui condicionado a pensar que a pergunta "quem é você?" fosse de difícil resposta. E concluí que ás vezes é mais difícil responder essa pergunta pelo fato de que gramaticalmente, é impossível.

O verbo Ser em inglês e algumas outras línguas é o mesmo que para Estar.
Facilita e muito a resposta.
Eu estou psicólogo. Eu sou curioso. Só depende do foco...

Gramáticas à parte, o que compõe a identidade além de conceitos que nos damos e nos dão, são coisas que fazemos, pensamos, queremos, comemos, assistimos, ouvimos, bebemos, frequentamos, etc.

Definir identidades de pessoas pra uma marca e fazer à partir disso um trabalho de marketing ou qualquer outra coisa, é bem fácil quando se é criativo.
Desvendar quem é o indivíduo num set analítico, demanda tempo, descrença e supervisão.

Psicologias também, à parte (quer dizer, nem tanto assim) Adoro personificar as coisas!
Seja um filme, uma obra de arte, uma música/banda, uma bebida/drink, entre mil outras coisas.
Quase que como fazem em desenhos animados, eu já logo crio uma personalidade e uma história pra aquela determinada "coisa".

Percebi o quanto isso era forte numa festa chata em que me vi olhando para as pessoas e imaginando o que elas ouviam em casa. Claro que o contexto influenciou diretamente na minha análise-criativa da cena. 
A festa era ruim e hippie, meio farsa. Uma menina representava a festa.
Basicamente achava que ela tinha um complexo de Gal Costa tardio, logo mal-resolvido (também invento psicopatologias, visto que as dos guias são chatas e muito dramáticas), por que tinha um cabelo, um tanto quanto, fatal, pero no mucho.
Usava um vestido 60's, xadrez, mal feito que faria Pierre Cardin chorar (ela jurava não acreditar em Moda). E um tênis all-star.
Ela dançava mal e fedia um pouco.

Mas me marcou. Marcou por que ela era uma grande representação daquele ambiente em que eu estava, que buscava uma originalidade que já não mais existia. Uma contestação sem propósito e com o objetivo único de serem como nossos pais, tomando cerveja barata e quente ainda que sejam pós-universitários num terraço coberto na Lapa.
Na hora criei uma história, alguns amores e traumas pra essa garota. Tudo foi embora quando minha ressaca chegou. Mas tudo fez muito sentido!
Uma das cenas rotineiras era de ela copiar um pouco seus affairs, e ouvir Novos Baianos por causa deles. Ouvia e fazia questão de decorar a letra pra cantar na festa daquele fim de semana e provar a todo mundo que fazia parte daquele grupo. Ainda que não soubesse que Baby Consuelo, virou Baby Do Brasil, evangélica e mãe das SNZ, atração frequente nos programas dominicais destinados às classes C, D e E.

Claro que existem personagens menos detonados que esses. Mas os em que destilo minha críticas, são os mais divertidos. 
Os Novos Boêmios da Bottega Veneta por exemplo, viraram um seriado na minha cabeça.. Muito drama, vinhos neo-zelandeses, e filosofia barata na noite dos balneários europeus.

7.11.11

Mix it up


Sabe aquelas versões de músicas em outros estilos?
Houve um boom de clássicos do punk rock em new-bossa pelo Nouvelle Vague...
A Rio Sessions com músicas de 80's, 90's, etc, em new bossa também.
Bob Marley, Stones, Guns'n'Roses, também não ficaram de fora.

Além disso, versões de músicas pop em milhões de outros possíveis estilos, viraram cool e pipocaram na internet nos últimos anos, assim como as mash ups.

Críticas e preferências pessoais à parte, o Rock'n'beats fez o álbum "Is This Indie" com bandas brasileiras, dando seu toque pessoal e suas versões às músicas dos Strokes.
As bandas não são necessariamente de indie-rock - a queridíssima Banda Uó fez uma versão delícia para Last Night, e que eu descrevi no facebook como "Strokes versão eletrobrega inspirado em Odair José, um clipe psicodélico-chroma-key e figurino 90's."

Não conhecia as bandas em nada do tipo e nem quero comentar as performances, ainda que tenha adorado.

O que eu preciso compartilhar mesmo é a necessidade das gerações atuais - isso me inclui, claro - "do tudo ao mesmo tempo agora".
O Pop já não é mais só pop, ele tem a versão rockabilly, por que afinal de contas, 50's é o novo 90's e não faz sentido essa segregação.
Uma banda tão incônica aos anos 2000 não poderia ser deixada de lado, e logo fizeram versões pros hits em indie-rock-brasileiro e entregaram o álbum em mãos ao Casablancas, depois do show de sábado.
E eu nem fico curioso pra saber o que ele achou, por que talvez ele esteja tão fora do contexto em que o álbum foi criado, que não teria tanto sentido, talvez - ainda que o baterista seja brasileiro.. Vai saber!

Existem teorias sociológicas de que o mundo atual funciona como uma rede de linhas de metrô.
As estações seriam as referências, tribos, etc. e nós viajamos sem saber muito bem por onde, de onde e pra onde, afinal o metrô é "invisível". E a cada estação e descemos, pegamos alguma coisa que nos interessa e juntamos ao que antes já havíamos coletado.
Basicamente, ninguém é só "hippie" ou "punk" ou "indie" ou "playboy", etc.. 
A segregação já é quase impossível devido ao grande número de informações absorvidas ou não, diariamente.

Logo as mash ups, versões musicais, e estilos fazem mais sentido na sociedade contemporânea, do que a insistência por uma identidade musical/fashion ou de estilo de vida puro e sem influências.

É daí que o cool se mistura ao brega e ganha prêmios de música.
É daí que o "Rock In Rio" tem hip hop, axé, pop, soul e rock, e de onde tiveram a ideia genial de unir bandas e cantores nunca antes juntos, no palco Sunset. 
E o Marcelo D2 profetizando "hip hop ao samba", faz toda uma cidade como o Rio de Janeiro, venerá-lo.
É daí que surgem os termos aparentemente absurdos e sem sentido de neo-retrô, hippie chic, e onde o Hi-lo toma conta dos editoriais de moda nos últimos anos.

O sagrado e o profano andam de mãos dadas na cultura contemporânea e ninguém sabe ao certo por quê e como isso foi acontecer.

Com todos os possíveis movimentos sociais, onde tudo é cíclico ou melhor, "helicoidal", pode ser que voltemos à segregações sociais, em busca das identidades originais, essências, etc.
Mas antes, ainda tem muito hip-hop-rock-samba pra tocar na sua iVitrola.

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E a banda "The Baseballs" também é uma boa pedida pra quem quer ver Rihanna ficar interessante: http://trendcoffee.cc/post/11404817786/the-baseballs